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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A abordagem católica sobre a homossexualidade

Por José Renato Leal

Merece os adjetivos de “homofóbica” e “preconceituosa” a doutrina da Igreja sobre o homossexualismo?
Resposta:
Homofobia é, literalmente, medo de homossexuais, ou, trocando em miúdos, uma espécie de aversão  que redundaria inevitavelmente para a segregação e a violência. A Igreja ensina o seguinte:
      1)      As relações homossexuais são desordenadas – moralmente inaceitáveis;
      2)      A origem do comportamento homossexual não é certa;
      3)      Os homossexuais devem ser bem acolhidos;
      4)      Eles são chamados a uma vida cristã por meio da oração, castidade e continência.
Obviamente, tal posicionamento gera tensões. Não é confortável a um homossexual ouvir o que a Igreja ensina sobre sua condição. É preciso que se entenda: é próprio da doutrina que ela entre em choque com nossas ideias e as da sociedade. Nosso Senhor, realista como era, disse que não veio trazer a paz, mas a espada... A espada aí tem um sentido figurado: assim como a espada corta e divide, o ensinamento cristão será causa de divisão, na medida em que distingue fiéis e infiéis. Cristo é, sim, o príncipe da Paz. Quando Ele disse que não veio trazer a paz, Ele se refere à paz do mundo, que despreza o Evangelho. Em outro ponto do Evangelho, Nosso Senhor não se contradiz ao dizer aos Apóstolos: “Deixo-vos a paz”. Pois logo em seguida completa: “Não a dou como o mundo a dá”. E que paz o mundo concede? A paz do mundo é uma paz que pretende conceder ao seu portador um estado de bem-estar sem exigências morais ou, quando muito, com exigências relaxadas. As pessoas têm uma concepção errada da Igreja. Acredita-se que a Igreja deva sempre se adaptar às demandas da sociedade. Nada mais falso. A Ordem dos Cartuxos tem um lema muito interessante: “O mundo dá voltas, a Cruz permanece”. Ou seja, fora dos limites da vida cristã, as coisas podem mudar ao sabor dos ventos, sem equilíbrio nem direção. Mas dentro da vida cristã, tudo está devidamente alicerçado e estes alicerces são, por natureza, intransferíveis.  Erram retumbantemente aqueles que pensam ser o seguimento de Cristo uma sucessão de acertos e conformidades com o mundo. Não e não. O seguimento da religião implica na aceitação de que, neste seguimento, haverá vários momentos em que as pessoas apontarão para uma direção, mas você terá que seguir por outro caminho, se quiser manter-se coerente em sua jornada. E estes momentos são sempre geradores de tensão, tensão inclusive com nós mesmos, pois temos que nos confrontar com nossa vaidade, orgulho, auto-suficiencia.
A Igreja Católica não pretende, contudo, instaurar o caos social, impedindo a convivência com os homossexuais, cerceando sua liberdade de ir e vir. Em todas as ações da Igreja sempre está presente a ordem e a prudência, aliada à caridade. O bom católico busca agir de forma sensata e equilibrada, sem dar margens a rompantes de euforia ou raiva. E é isto que a Igreja Católica espera de seus fiéis. As objeções que nós, católicos, levantamos quanto às reivindicações lançadas por grupos de ativismo gay (como o casamento gay e a adoção por homossexuais), são todas elas fundamentadas. O Magistério da Igreja, como eu costumo dizer, não toma decisões numa mesa de bar, entre uma rodada ou outra de cerveja. São absurdas, portanto, as acusações de que os católicos agem contra os direitos humanos e contra a ordem social, tachando-nos de homofóbicos. A falsidade desta acusação pode ser evidenciada pela própria realidade que nos cerca. Podemos dizer que a Igreja está em campanha de perseguição contra os homossexuais em algum dos países nos quais ela está presente? A resposta é não. O embate da Igreja com a agenda gay não se dá pela violência, mas pela confrontação de idéias e princípios contrários. Somos, sim, contrários à equiparação da união homossexual com a união heterossexual e somos a favor de que uma criança passível de adoção deva ter direito a um pai e uma mãe, homem e mulher. Temos tais convicções porque acreditamos que a família é a célula fundamental da sociedade e que a estrutura tradicional e natural dela - na qual a sociedade se formou: pai e mãe – deve ser mantida sem variações e protegida pela lei. Não podemos deixar de dizer também que tais convicções, além de racionalmente fundamentadas, partem da fé que temos em tudo àquilo que Deus nos revelou pelas Escrituras e pelo Magistério da Igreja. Nós, católicos, podemos ser acusados de acirrar as discussões para a aprovação de determinadas leis, dado que temos o direito moral e legal de expor o que pensamos ser o melhor para a sociedade. Entretanto, não podemos ser acusados de inviabilizar o cotidiano de nenhum homossexual, não podemos ser acusados de impor aos homossexuais um regime de coerção ou terror. Estamos firmes e tranquilos, sem medos patológicos, euforias, ansiedades ou raivas. A pecha de homofóbicos, portanto, não nos serve.
E a pecha de “preconceituosos”? Antes de ir ao ponto, uma constatação: a palavra preconceito virou um “coringa” poderoso. É usada atualmente nas mais variadas discussões, muitas vezes sem que o uso seja apropriado àquilo que está sendo discutido. O significado preciso desta palavra é próxima à recomendação evangélica do “não julgar”. É a elaboração de um CONCEITO PRÉvio a qualquer justa verificação do objeto em questão, ou quando se aponta uma causa para um efeito sem que, de fato, haja relação entre um evento e outro. Estarei, por exemplo, sendo preconceituoso se considerar que um administrador homossexual será um péssimo profissional pelo único fato dele ser homossexual. Entretanto, se eu digo que, conforme a doutrina católica, um homossexual age imoralmente ao ter relações com alguém do mesmo sexo, não é possível, a partir disto, afirmar que estou sendo preconceituoso. E porque? Porque a justificativa da minha afirmação está contido no próprio ato do sujeito. Eu não estou deduzindo a imoralidade do ato a partir de um outro fator, como se, por exemplo, eu dissesse que a relação sexual é imoral por conta do sujeito torcer para o Atlético Mineiro ou por ele ser um político corrupto. Conforme a Fé católica, as relações homossexuais são imorais por si mesmas. Não são as disposições psicológicas dos sujeitos envolvidos que tornam o ato em questão moral ou imoral, nem qualquer outro fator externo ao próprio ato. Por outro lado, ao considerar como imoral a relação homossexual, não se está julgando qualquer outro aspecto de vida do sujeito além do próprio ato sexual em si. Não há fundamento, então, em se julgar a doutrina católica como preconceituosa nesta questão.
E por que a Igreja é contrária às relações homossexuais? Por ser contra a lei de Deus, expressa sobretudo nas Escrituras. A Igreja considera tais atos contra a natureza, isto é, contrários a razão pela qual Deus constituiu o ser humano em homem e mulher. A Igreja crê que o enlace entre o homem e a mulher não é fruto do simples acaso, mas uma disposição determinada pelo próprio Criador. Tanto o homem como a mulher foram criados justamente para se complementarem, ação geradora da instituição da família. As relações homossexuais são inaceitáveis porque neles não há a complementaridade que tem como fim, inseparavelmente, a procriação e a união conjugal. O próprio modo como se dá a relação homossexual evidencia a sua desordem intrínseca, pois na relação entre o homem e a mulher, os órgãos de ambos já estão dispostos para o ato sexual, já estão estruturados para este fim específico.
A doutrina católica reconhece que, em relação ao homossexualismo, “a sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar” (CIC 2357) e que “um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação” (CIC 2358). Com isto, reconhece-se que há aqueles que manifestam tendências homossexuais espontaneamente, mesmo ainda em tenra idade. “Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.” (CIC 2358 e 2359) 
Os homossexuais podem ser católicos e bons católicos. Todavia, em virtude de sua condição, o caminho deles terá como principal característica a renúncia, trocando em miúdos, uma vida sexual conforme os ensinamentos da Igreja, nada de relações com pessoas do mesmo sexo e distância de situações que possam levá-lo a isso. É difícil? Deve ser sim, mais para uns, menos para outros. Mas Nosso Senhor disse que, quem quiser segui-lo, terá que levar sua cruz. Ele disse isso há 2000 anos e quanta ignorância ainda temos deste ensinamento do Senhor! Ainda queremos seguir a Nosso Senhor com toda a pesada bagagem de nossa auto-suficiência... Como é difícil que as pessoas compreendam que é uma luta a vida do homem sobre a terra. É difícil, é sim. 
Marcos 10, 23-27 
"E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: 'Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!' Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: 'Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus.' Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: 'Quem pode então salvar-se?' Olhando Jesus para eles, disse: 'Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.' " 
Percebem o que Nosso Senhor disse? Os discípulos, diante das exigências do Evangelho, começaram a se questionar se alguém poderia ser salvo! Vejam que bela resposta Nosso Senhor deu. Se tivéssemos mais fé, não nos queixaríamos tanto das exigências da vida cristã. Esse é o grande problema do mundo de hoje. As pessoas querem uma vida cristã seguindo seus próprios moldes. Quando vamos parar de dizer tolices e perceber que quem faz o molde da vida cristã não somos nós. Não é o molde que tem que se adaptar a nós, mas nós ao molde. E nesta adaptação, arestas precisam ser aparadas. Que ninguém diga estar em situação tal que seja impossível seguir o Evangelho. Não! Qualquer um que queira de todo coração pode seguir o Evangelho, pode ser um fiel membro da Igreja de Cristo. Mas cada um terá que lutar sua própria luta, carregar sua própria cruz.
Pra finalizar, uma palavra sobre aqueles lamentáveis e condenáveis casos de agressão a homossexuais que aparecem na imprensa – aqueles casos em que a agressão ocorreu pelo fato da vítima ser homossexual. Não é necessário muita inteligência para perceber que os criminosos que agem de tal forma o fazem movidos por defeitos de caráter, por ódios represados na mente que buscam ansiosamente por um alvo. Tais pessoas, se católicas, não fazem tais barbaridades movidos por algum sentimento de apreço pela doutrina católica, até porque se tivessem algum interesse pela doutrina, saberiam que o Catecismo da Igreja Católica diz expressamente sobre os homossexuais: “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta.” (CIC 2358) Tais pessoas, se católicas, são motivo de vergonha e escândalo, escândalo sobre o qual Nosso Senhor dirigiu duras palavras: 
Mateus 18, 7 "Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai do homem que causa escândalo!"

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