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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Não se vá!

Caros, reproduzo abaixo a resposta dada por mim a um participante do Facebook acerca de sua anunciada saída da Igreja Católica rumo ao protestantismo. Por ética, substituo o nome dele por "Fulano".

"Fulano, deixo registrado que lamento no mais alto grau sua decisão. Uma geração incontável de homens e mulheres deram seu testemunho público exemplar e, por vezes, heróico, servindo a Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Católica. O porquê a Igreja Católica não deu certo contigo é um daqueles mistérios que aguarda o nascimento do "sábio" homem que o decifrará. Estou aguardando o surgimento desta rara inteligência sobre a terra. Devo lembrá-lo, caro Fulano, que sua decisão de deixar a Igreja Católica implica que você tenha decidido negar, um a um, todos os pontos de Fé que distinguem a Igreja de outras denominações cristãs. Implica que vc tenha reservado algumas horas ou mesmo dias de seu precioso tempo para fazer um sério exame de consciência, repassando detalhamente cada pequena e grande consequência de sua decisão. Devo presumir, caro Fulano, que, se diz estar de saída, é porque vc realmente estava dentro da Igreja, ou seja, vc realmente havia aderido à doutrina integral da Igreja Católica. Se isto é verdade, então vc deve saber que a doutrina cristã é orgânica, ou seja, é formada por diversas partes hierarquicamente ordenadas e mutuamente dependentes, de forma que a negação de um único ponto de Fé compromete automaticamente diversos outros pontos. Mas, é claro, vc não seria tão tolo em tomar uma decisão tão vital para seu estado espiritual motivado por meras disposições psicológicas, como conforto e bem-estar. Até porque, se tais coisas tivessem a importância que lhe atribuem, Cristo não teria morrido como morreu. Afinal, o bem-estar, que não se confunde com a paz, não estava presente no lenho da Cruz.

Fulano, tomei a liberdade de visitar o seu perfil. Amigo... não retroceda, porque "dar para trás" no caminho percorrido? O que aconteceu? Que dúvida irresolvível vc tem que a Igreja já não tenha explicado e esmiuçado por meio de seu Magistério multissecular? Ou alguém te decepcionou, te maltratou, traiu sua confiança? Caro Fulano, Nosso Senhor não fundou a Igreja entre anjos, mas entre os homens, que são inclinados para o mal e lentos para o bem, MESMO APÓS O BATISMO, MESMO COM ANOS E ANOS DE CAMINHADA. Ou será que foi o "canto da sereia" da Sola Scriptura? Amigo, a Bíblia tem uma casa, que se chama Igreja. A Bíblia tem que ser lida a partir da Tradição viva da Igreja, foi assim desde sempre. Saiba que a Sola Scriptura protestante, que não corresponde à correta leitura que se deve ter da Bíblia, o levará a negar toda coroa de glória que Deus revestiu Maria, o levará a negar a presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia, fonte de tantos santos e santas, o levará a negar que Nosso Senhor tenha dado autoridade suprema a Pedro pelo poder das Chaves, o levará a negar estas coisas e muitas outras mais. Vc está realmente disposto a deixar de lado tudo isto? Sob que pretexto, Fulano, vc se permitirá fazer estas coisas? Talvez vc diga: "O importante é Jesus", ou coisas do gênero. Fulano, Cristo e sua Igreja não são nuvens sem forma, que se desvanecem ao toque. A Nova Aliança é espiritual sim, mas da qual estão à serviço do espírito coisas muito concretas, palpáveis, como hierarquia e sacramentos, instituídos por Cristo. Seguir Jesus Cristo não é apenas receber suas consolações cotidianas, mas também aceitar a maneira como ele dispôs as coisas concretamente na história. Bem, Fulano, como católico, me coloco a sua disposição para ajudá-lo a esclarecer algum ponto que vc julgue pendente. Reflita sobre o que disse e, se Deus permitir, nos falaremos em breve. Abraços!"

sábado, 12 de outubro de 2013

Purgatório

A existência de um lugar de purificação chamado Purgatório parte de dois princípios: 1) Primeiro - digo popularmente pra ficar mais fácil de entender- Deus "não dá tapinha nas costas", 2) Há pecados que "levam à morte" (espiritual - pecados mortais) e há faltas que, se não impedem a salvação, nem por isso não exigem reparação.

O Purgatório não é uma rota alternativa de salvação. Só há dois caminhos: salvar-se ou perder-se eternamente. Entretanto, aqueles que morrerem sem pecados mortais, mas que possuírem faltas menos graves ou tiverem ainda imperfeições espirituais quaisquer a serem sanadas, poderão ser salvos, mas "passando por um fogo", como está nas Escrituras. Atentem para o fato de que o Purgatório não é uma modalidade alternativa à aplicação dos méritos conquistados por Nosso Senhor. Pelo contrário, o Purgatório é justamente a aplicação destes méritos conforme a justiça divina. Grande, imensurável é a misericórdia de Deus, sem dúvida. Entretanto, a misericórdia divina está sempre em consonância com sua também imensurável Justiça.

O Purgatório não é "segunda chance", nem "repescagem". Os que vão para o Purgatório estão salvos. Os méritos de Cristo são suficientes para todos superabundantemente, mas a aplicação destes méritos não se dá de forma indiscriminada, ou melhor, não se dá "na canetada". Caros protestantes, a justiça de Deus não finge que não há pecado no homem. Todo e qualquer pecado exige para a justiça divina uma satisfação, que são os méritos de Cristo aplicados não na base da "canetada", mas através dos atos de arrependimento e penitência individuais. Os protestantes tem grande dificuldade em reconhecer o papel do esforço humano no processo da salvação e ficam por aí dizendo bobagens acerca do que a doutrina católica ensina. QUEM OPERA A SALVAÇÃO É DEUS POR SUA GRAÇA. Mas, para ser salvo, o homem deve abrir-se à ação da graça de Deus. Esta abertura pressupõe uma série de ações humanas, no foro íntimo e exteriormente: arrependimento e confissão dos pecados, exercício das virtudes cristãs, prática das boas obras, render o culto devido a Deus etc. Cabe lembrar que Deus espera que façamos todas estas coisas, não porque estas coisas tenham um valor intrínseco, mas porque DEUS, NUM ATO LIVRE, FAZ COM QUE ESTAS COISAS PARTICIPEM DOS MÉRITOS DO SACRIFÍCIO DA CRUZ. Portanto, sejam honestos e parem de dizer que os católicos não crêem na graça de Deus. Aí pergunta o protestante: mas o bom ladrão Dimas não teve tempo para ter uma vida cristã convencional e, mesmo assim, foi salvo. Ocorre, caro protestante, que vc precisa ter uma visão mais ampla. Dimas foi salvo por ter aceito o dom da Fé no último instante e NA PREVISÃO DE QUE DARIA O DEVIDO TESTEMUNHO DESTA FÉ DE TODAS AS FORMAS POSSÍVEIS CASO TIVESSE TEMPO PARA TANTO. Da mesma forma, Dimas não foi batizado pela água, mas o foi sobrenaturalmente, NA PREVISÃO DE QUE ACEITARIA O BATISMO DA ÁGUA SE HOUVESSE TEMPO PARA TAL. Portanto, ainda que alguém tiver que ser salvo no último instante, Deus não dá "tapinha nas costas".

sábado, 6 de julho de 2013

O que é esta erva daninha dentro de nós?

Acredito que a crise no cenário católico atual tem origem em algo que, devemos confessar, está dentro de cada um nós, católicos contemporâneos. O que é esta erva daninha dentro de nós?
É a crise da percepção da realidade do que somos e de onde estamos?
Quando os Apóstolos saíram do Cenáculo no dia de Pentecostes, eles tinham uma certeza: eram portadores da Verdade. Foi isto que “encantou” as centenas de pessoas que se converteram naquele dia.
Vivemos dentro de um sistema de pensamento que nos quer fazer crer que a nossa Fé é apenas uma coisa entre tantas outras coisas, como um item na seção de congelados no supermercado.
Ora, a nossa Fé não é apenas uma coisa entre tantas outras coisas. Cristo não morreria da forma como morreu para nos dar uma distração religiosa que nos entretessse. Nós somos chamados a ser portadores da Verdade diante do mundo, ponto final.
Se a idéia que fazemos da Fé e da pertença à Igreja é medíocre, tudo que fizermos com relação a isto será igualmente medíocre.
Como podemos colaborar para trazer comprometimento católico ao outro? Agindo com o mesmo espírito dos Apóstolos em Pentecostes, ensinando ao próximo sobre as verdades de nossa Fé (e da Moral) não como uma mera opção entre tantas, mas com o vigor de quem se reconhece como membro da Igreja que, não é dona da verdade, mas sua portadora.
Não nos deixemos contaminar pelo relativismo.

sábado, 4 de maio de 2013

Papa Francisco: "Com o príncipe deste mundo não se pode se dialogar."

Vaticano: Francisco recorda perseguições contra cristãos
Papa diz que a fé implica que se enfrente «ódio do mundo»

Cidade do Vaticano, 04 mai 2013 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje no Vaticano para as perseguições de que muitos cristãos ainda são vítimas, admitindo que a fé implica que se enfrente o “ódio do mundo”.

“O caminho dos cristãos é o caminho de Jesus. Se nós queremos ser seguidores de Jesus, não existe outra estrada, apenas a estrada que Ele assinalou, e uma das consequências disso é o ódio é ódio do mundo, e também do príncipe deste mundo”, o demônio, disse, na homilia da missa a que presidiu esta manhã na capela da Casa de Santa Marta, onde reside.

O Papa frisou que Jesus libertou os seus seguidores “do poder do mundo, do poder do diabo”, considerando que é essa a “origem do ódio”: “Nós somos salvos e esse príncipe que não quer que sejamos salvos, odeia”.

Francisco evocou as “tantas comunidades cristãs perseguidas no mundo” hoje, “mais do que nos primeiros tempos”.

“Com o príncipe deste mundo não se pode se dialogar: e isso está claro! Hoje o diálogo é necessário entre nós, é necessário para a paz. O diálogo é um hábito, é uma atitude que devemos ter entre nós para nos entendermos, deve ser sempre mantido. O diálogo vem da caridade, do amor, mas com o príncipe não se pode dialogar: só responder com a Palavra de Deus que nos defende”, alertou.

O Papa apelou ainda à unidade do ‘rebanho’ da Igreja, observando que se alguém deixa de ser “ovelha” não tem “um pastor que a defenda e cai nas mãos dos lobos”.

A missa contou pelo segundo dia consecutivo com um grupo da Guarda Suíça Pontifícia.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Crítica e julgamento

Toda crítica é um julgamento? Não. O julgamento condenado por Cristo é: 1) Negar ao próximo aquilo que lhe é concedido por Deus como oportunidade, inclusive para aquele que nega; 2) Concluir sem fundamento sobre a vida do próximo. No episódio da mulher adúltera, Nosso Senhor condenou a falta de misericórdia, resultado da concepção errônea que os acusadores tinham de si mesmos. Eles criam ter uma bagagem meritória que lhes dava o direito de serem implacáveis. Jesus desarmou rapidamente a todos, fazendo-os cair na realidade, constrangidos. Aquela pobre mulher havia, de fato, pecado, e Jesus reconhece isso, dirigindo-lhe um severo conselho: não peques mais. Portanto, Nosso Senhor condena o pecado e libera aquela mulher para que tenha uma chance de recomeçar. Implicitamente, o Senhor criticou a mulher, mas não a condenou. Ele não veio ao mundo para facilitar a condenação. Ele mesmo MORREU em nosso lugar, para que, por seu sacrifício, pudesse satisfazer plenamente a Justiça divina e assim nos abrir as portas do Céu. Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Por isso, não podemos negar ao próximo a oportunidade de mudar de vida ou de se redimir de seus erros, nem podemos desejar a condenação eterna do próximo. Do contrário, estaremos julgando. Corrigir os que erram é uma obra de misericórdia. A correção fraterna é um direito de todo católico e, na prática, se constitui em um verdadeiro dever. A justiça cristã é misericordiosa e a misericórdia cristã é justa.



quarta-feira, 13 de março de 2013

Temos um Papa!


13 de março de 2013
Salve o Romano Pontífice eleito!
Papa
FRANCISCO

Eu, José Renato, prometo-vos obediência em tudo que determinares com relação à Fé e à Moral, usando sua autoridade de Supremo Pastor da Igreja.


domingo, 3 de março de 2013

A renúncia de Bento XVI: algumas idéias muito erradas a serem evitadas. Ou: mais um capítulo da série "As armadilhas do modernismo"

Com a renúncia de Bento XVI, passaram a circular os mais variados artigos e entrevistas sobre a doutrina da Igreja a respeito do papado. Invariavelmente, um rio caudaloso de bobagens se formou, desaguando nas cabeças dos incautos. Selecionei alguns pontos que merecem nossa urgente reflexão:

Primeira idéia errada: A renúncia de Bento XVI consistiria numa mudança no modo de encarar o papado, numa reviravolta do modelo multisecular do poder da Igreja. A partir de agora, os próximos papas estariam informalmente obrigados a deixaram seus postos quando confrontados a dificuldades externas ou de foro íntimo.

A doutrina envolvendo o papado não mudou em nada, nem uma vírgula! O poder do Sucessor de Pedro permanece vitalício, ou seja, perdurará enquanto vivo estiver o Papa, exceto se ele renunciar. A renúncia de um Papa é um fato excepcional, ou melhor, excepcionalíssimo. Nem hoje e nem nunca será a regra. Nem se pode deduzir que um papa renunciante tem mais mérito que um papa que queira persistir até o fim. Pensar o contrário disto chega a ser um insulto para com a memória de João Paulo II que, como a maioria de nós testemunhou, resistiu sob o peso de sua responsabilidade até o último fragmento de vida que lhe restava. Podem existir circunstâncias em que um papa julgue que renunciar é o melhor a se fazer. Mas isto não é uma ciência exata. E não nos cabe nos arvorar em juízes sobre um assunto que requer a ponderação de inúmeros fatores, a maioria dos quais nem sequer imaginamos. Nenhum de nós, simples fiéis, sabe o que é ter o peso de um Pontificado nas costas. O Papa é o Sucessor de Pedro, que recebeu uma missão que comprometeu toda a sua vida. Dentro da mística católica, o ministério petrino (a função de Papa) está intimamente ligado ao ministério episcopal (a função de bispo), sendo este último sacramentalmente indelével, ou seja, dura a vida inteira. E mais: Pedro resistiu até a morte (e morte de cruz!). Portanto, embora seja possível que um Papa deixe de sê-lo ainda em vida, em condições normais, É EXTREMAMENTE CONVENIENTE que ele permaneça como tal até a morte. Pois ser Papa não consiste num cargo humano qualquer, regido pelo pragmatismo e pelas normas de eficiência. É um serviço prestado à Igreja que é legitimado e sustentado pelo poder de Deus. Portanto, a idéia de que a renúncia papal deva se tornar coisa corriqueira ou até mesmo obrigatória parte, muitas vezes, de pessoas desejosas de despojar a autoridade papal de sua realidade sobrenatural. Não caiamos nesta armadilha!

Uma dúvida: Bento XVI agora não é mais Papa, ou seria um Papa menor? Com a eleição do novo Pontífice, teríamos um governo dividido na Igreja? 

Bento XVI não é mais papa, ponto final. Não podem existir dois papas reinantes. No caso de aparecem dois homens reclamando para si o papado, há duas possibilidades: ou um deles é verdadeiro e o outro falso (anti-papa) ou ambos são falsos. A designação de "Papa emérito" para Joseph Ratzinger é apenas um título, em reconhecimento de seus serviços prestados. Mas ele não é mais Papa. Quando for eleito o novo Sumo Pontífice, Ratzinger deverá a ele inteira obediência, como todo o resto dos fiéis. Portanto, tudo o que Ratzinger disser já não tem mais a infalibilidade. Entretanto, mesmo já não sendo Papa, continua sendo bispo. A Igreja é uma monarquia. É o sistema de governo mais conveniente para a preservação da Fé. Também é o sistema de governo mais assemelhado com o Reino Celeste, dado que Cristo é rei, que toda a autoridade lhe foi dada no Céu e na terra. Não cabe agora entrar em detalhes sobre a visão do Magistério da Igreja a respeito dos sistemas de governo. Basta dizer, por ora, que não podemos ser tolos em acreditar que a Igreja deva, forçosamente, adotar este ou aquele modelo de governo das nações. Não é preciso muita inteligência para perceber que o governo secular e o governo eclesial tratam de matérias distintas e que mecanismos válidos e bastantes úteis no governo secular seriam altamente nocivos na condução do governo da Igreja. Pensem vocês mesmos nas consequências do modelo democrático da "maioria de votos" empregada em questões de altíssima gravidade, como, por exemplo, no combate às heresias. Pensem vocês mesmos. Saí um pouco do tema, mas para mostrar que a idéia de que a Igreja deva renunciar ao poder supremo papal - exercido por apenas 1 - parte, muitas vezes, de pessoas desejosas de despojar a doutrina de sua integridade garantida pela força da autoridade papal. Não caiamos nesta armadilha!

sábado, 2 de março de 2013

Pedro se ausentou, mas apenas por um tempo...

Meus caros amigos e amigas, a Sé está vacante. Na quaresma de 2013, a Igreja experimenta aquele estranho silêncio. Na cabeceira da mesa do banquete dos cristãos, o lugar está vazio. As chaves do Reino dos Céus permanecem recolhidas.

Neste tempo histórico, recordo-me de algumas passagens do Evangelho. Na Santa Ceia, Nosso Senhor disse aos apóstolos: "Digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá!". Tive uma forte impressão de que esta frase representa muito bem aquela intenção e sentimento que moveu Bento XVI ao tomar tão gravíssima decisão. Os apóstolos estavam apreensivos, tristes, com a iminência dos sofrimentos do Mestre. Diz Nosso Senhor: "Convém a vós que eu vá!". E assim diz Joseph Ratzinger também: "Convém a vós que eu vá!". Diz Nosso Senhor: "Não se perturbe o vosso coração. Creiam em Deus, creiam também em mim". Também deve pensar Bento XVI: "Não se perturbem. Acreditem em Deus, acreditem no Senhor." Tenho a convicção de que Bento XVI tem algo muito importante em mente. Se ele agiu como agiu, é porque prevê como a Igreja poderá se beneficiar disto. Um indício é a decisão de morar dentro do Vaticano. O próximo Papa poderá assim contar, rapidamente, com os bons conselhos de Bento XVI. 

Disse também Nosso Senhor na última Ceia: "Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas o mundo há de se alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza se há de transformar em alegria." Tais palavras também se aplicam a nós hoje. Pedro se ausentou, mas apenas por um tempo... O Espírito Santo há de nos dar outro Pontífice sobre a cadeira de Pedro. A alegria do mundo está na vã expectativa de um Pastor que faça suas vontades, de um Pastor que traia a Infabilidade. A renúncia do Santo Padre reacendeu esta vã e distorcida esperança mundana. Nossa tristeza pela saída de Bento XVI se há de transformar em alegria, quando formos testemunhas, mais uma vez, da força das palavras de Nosso Senhor: "E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela [a Igreja]", quando a Providência Divina nos der um novo Servo dos Servos.

Vamos rezar pelos Cardeais que participarão do Conclave. Embora receba da parte de Deus a Infabilidade, ou seja, a capacidade de nunca ensinar o erro em matéria de Fé ou Moral ao falar ou escrever na qualidade de Chefe da Igreja, o Papa permanece tão suscetível ao pecado pessoal quanto eu, simples fiel. O Papa, infalível no ensino, pode falhar na conduta particular e no modo de tratar os fiéis. É por isso que São Pedro, o primeiro Papa da Igreja, foi duramente repreendido por São Paulo. É por isso que temos sim que rezar para que o próximo Papa seja um homem enriquecido de qualidades humanas. A grande maioria dos Papas da Igreja foram homens com fama de santidade ou de grande integridade moral. Mas alguns tiveram uma vida censurável em mais de um ponto. Isto pode nos entristecer ou indignar, mas não nos surpreender. Nosso Senhor já havia nos alertado que permitiria que o joio crescesse junto com o trigo. Nesta misteriosa permissão, manifesta-se o poder de Deus. Quer nos mostrar o Senhor que Ele tem o poder de dar a sua Igreja a capacidade de sobreviver a todo tipo de adversidade, inclusive aquela que surge de dentro de suas estruturas humanas. A sã doutrina da salvação prevalece contra os ataques da fraqueza humana. E na pessoa do Papa, a autoridade de Cristo presente nele resiste aos pecados pessoais cometidos pelo Papa, tal como um diamante que não se deixa corroer pela lama na qual é lançada.

Rezemos pela unidade da Igreja, pelo iminente Conclave e pelo próximo Papa. 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Para os jovens: a Religião não é uma "fase"

A Religião não é uma fase em nossa vida. Vejo com tristeza muitos receberem os Sacramentos da Igreja e, logo em seguida, abandonarem os preceitos da Igreja. Talvez tal coisa aconteça pela idéia que se tem da Religião como apenas um item a mais que compõem a nossa vida. Não está certo. A Religião opera em nós um novo modo de ver o mundo. Ela deve estar presente em todas as nossas ações: em família, com os amigos, no trabalho, no estudo, no lazer. Ela não é uma coisa entre outras coisas: ela envolve todas as coisas  de nossa vida, discernindo o que é bom e o que é mal. A recepção dos Sacramentos não deve ser encarada como uma esmola que prestamos a Deus pela nossa inconstância. Não! Se nós levamos alguém ao Batismo - ou nos batizamos - é porque queremos conduzir nossa vida ou a do outro pelo caminho espiritual. Aquele que recebe o Sacramento da Eucaristia pela primeira vez ou o Sacramento do Crisma deve ter em mente o desejo de uma vida conforme a Lei de Deus. E o mesmo vale para o casal que deseja receber o Sacramento do Matrimônio! Enfim, aqueles que recebem os Sacramentos da Igreja devem querer produzir frutos pela graça produzida pelos Sacramentos. A Igreja é a dispensadora dos Sacramentos e ela deseja que aqueles que os recebem vivam sempre de acordo com os mandamentos de Deus e da Igreja. Quem recebe este presente maravilhoso - o Sacramento - da Igreja sem intenção de perseverar faz pouco caso de Deus, faz pouco caso da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu derramando todo o seu precioso sangue para que pudéssemos ter abertas para nós as portas do Céu por meio dos Sacramentos. Portanto, jovem, não abandone o caminho da Religião. Não dê como desculpa o compromisso dos estudos, dos cursos, do trabalho, a agenda apertada dos lazeres etc. etc. São tantas as coisas que o mundo oferece! São tantas as opções hoje em dia! Mas tudo isso são coisas terrenas, algumas necessárias, outras importantes e outras supérfluas. Nossa negligência no seguimento da Religião repercutirá não só ainda neste mundo, mas também na vida eterna. Cuidemos desde já em preparar o caminho de nossa alma para o Céu. E façamos isto por meio da Religião. Qualquer religião? De modo algum. Façamos isto por meio da Religião verdadeira, aquela que foi revelada por Deus, a Igreja Católica, sem a qual não há salvação.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O discurso ardilosamente sedutor do progressismo

Por José Renato Leal

Respondendo ao artigo publicado em:

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=73546

Minha opinião é breve. Se você, leitor, deseja uma Igreja serva das modas e das demandas do mundo, então acolha com alegria o artigo de Ivone Gebara. Entretanto, esta não será a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas outra. O que Ivone e todos os progressistas propõem por detrás de todo belo palavreado é isto: dê-nos liberdade para agirmos como quisermos, tire de nós o jugo suave das leis evangélicas. Tal coisa trará a nossas mentes modernas uma sensação de bem-estar e conforto. Entretanto, tudo isto se dará do lado de fora da Cidade dos Cristãos. Leitor amigo, não se deixe enganar, acolhendo mentiras sob os fragmentos de verdade. É certo que, no proceder pastoral de muitos líderes, há muitas coisas que merecem ser revistas. O verdadeiro católico, entretanto, não confunde as falhas de conduta com a doutrina. Os progressistas perseguem um objetivo há muitas décadas: o relaxamento da doutrina, a conformidade desta com os anseios do mundo. Eles planejam e articulam com o intuito de despojar a Igreja de sua força reformadora do mundo. Em seus planos, ela seria não mais do que uma ONG ou um braço religioso da ONU. Esta, na visão deles, seria o triste destino da Igreja pela qual Cristo derramou todo o seu sangue na cruz. Se você acha que Nosso Senhor morreu como morreu para fundar uma Secretaria de Desenvolvimento Social sem nenhuma força impositiva, então seja bem-vindo ao “outro mundo possível” progressista.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A renúncia do Santo Padre

Quantas coisas poderiam ser ditas! 

Meus irmãos na Fé, por ora, direi apenas isto:

Este é o momento de reafirmarmos nossa fidelidade ao Romano Pontífice, 
Bento XVI.
Este é o momento de rezarmos pelo Romano Pontífice e pela Igreja.


"O Senhor o conserve, o guarde e o faça feliz na Terra e não o entregue nas mãos de seus inimigos."

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sua Santidade, o Papa Bento XVI, anuncia que renunciará ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, em 28 de fevereiro de 2013.

Eis as palavras com que Bento XVI anunciou a sua decisão:

"Caríssimos Irmãos,

convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus."

Fonte: http://pt.radiovaticana.va/Articolo.asp?c=663817

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A Igreja é SANTA e SANTIFICADORA - Resposta a um colega do Facebook

Rodrigo, paz de Cristo. Alguns apontamentos que vão em sentido contrário ao que normalmente se houve nos meios eclesiais:
1) Diz-se normalmente que a Igreja é santa e pecadora, mas isto não está correto. Pela nossa santa doutrina, a Igreja é Santa apenas, imaculada. Tanto é que as características constitutivas da Igreja sempre foram consideradas quatro, a saber: 1) Una, 2) Santa, 3) Católica, 4) Apostólica. Pecadores são os membros da Igreja, desde o Papa até o simples fiel. Quando você peca, não é a Igreja que peca, é você que peca contra a Igreja. Se o Papa peca, não é a Igreja que peca, é ele que, mesmo sendo quem é, peca contra a Igreja - embora permaneça infalível quando ensinar como supremo Pastor da Igreja. A Igreja, Corpo Místico de Cristo, é Santa e Santificadora.
2) Diz-se por vezes, principalmente na PJ, que Jesus é um revolucionário. Há um problema nesta qualificação. Jesus nunca foi um revolucionário no sentido marxista, sentido este que expressa a revolução como a necessidade de modificar não apenas o que está desordenado, mas também o que é ordenado. É a mudança por amor à mudança, e não por amor ao bem material e espiritual do homem. É por isso que as principais revoluções dos últimos séculos causaram grandes danos no campo moral principalmente. Deus está na ordem, não na desordem. As ações de Nosso Senhor se pautavam pela justiça, não por um espírito revolucionário. Se você percorrer o Evangelho, verá que as ações de Nosso Senhor podiam causar contrariedade tanto ao povo como aos líderes religiosos. Nosso Senhor combatia e por vezes proibia com sua autoridade algumas coisas não por simplesmente serem antigas ou por um apego juvenil à novidade. Ele fazia isto em vista da patente injustiça, imoralidade ou caducidade da coisa (em razão de sua vinda à Terra). Portanto, a idéia de que Jesus era revolucionário pode trazer a falsa impressão de um Jesus de linha "che-guevariana", um homem que queria simplesmente "chutar o pau da barraca" não importando os meios pelos quais faria isto. O Jesus revolucionário teria descido da cruz.
3) A idéia de que temos que desafiar as disposições doutrinárias da Igreja por que "as coisas tem que mudar" ou porque a hierarquia seria, mesmo que em parte, uma força opressora a ser combatida, é uma idéia tipicamente marxista. É absolutamente falsa a idéia de que devamos fazer oposição à doutrina por compromisso a uma visão revolucionária da história, onde tudo é e tem que ser mutável, mesmo aquilo que aprendemos pela Igreja ser imutável. Rodrigo, temos que discernir tradição e Tradição (com "t" maiúsculo). A Doutrina de Fé e de Moral da Igreja, proclamada pelo Magistério à luz das Escrituras e da Tradição, é imutável. A Igreja, no ensino desta Doutrina, participa da autoridade de Cristo. Em outras palavras, quando a Igreja fala, ensinando a doutrina imutável, é Cristo fala. Quando o Papa proclama uma verdade de fé ou moral, é Cristo quem fala, por meio do Papa. Pensar diferente disso significa dizer que Nosso Senhor deixou a Igreja à mercê não de sua autoridade, mas do livre pensamento do homem, que é falho. Significa dizer que o Espírito Santo não opera com eficácia na Igreja. Rodrigo, é por isso que eu digo, mais uma vez: TEMOS QUE CRER NA AUTORIDADE DA IGREJA. Quando nós cremos na Igreja Católica, como rezamos no Creio, Nosso Senhor nos ampara em todas as dificuldades. As incompreensões são parte integrante da evangelização. Temos dois caminhos: podemos evitar as incompreensões conformando a Fé às modas do mundo ou podemos suportar as incompreensões conservando a Fé. Os mártires de todos os tempos seguiram este último caminho. Veja bem: até agora estou falando da doutrina de Fé e Moral, que nós NÃO CRIAMOS, nem TRANSFORMAMOS, mas RECEBEMOS da Igreja. Paralelo a vivência da Fé, a vida católica está repleta de usos e costumes, que são passíveis de mudanças, como gostos musicais, tipos de roupa, etc. Pegue dois jovens católicos, ambos fiéis à doutrina, mas um do século 19 e outro do nosso tempo. Ambos compartilham a mesma doutrina, mas são diferentes no que vestem, no que comem, no modo de falar, no lazer... Estas mudanças podem e devem ser reconhecidas. É claro que devemos ter sabedoria para identificar se algum costume nosso pode ser prejudicial à própria santificação ou a do próximo. Por exemplo, no caso das meninas, o uso de uma mini-saia pode ser conflitante com o seguimento do 6º mandamento da Lei de Deus (não pecar contra a castidade). Pode ser que a letra de uma música que ouçamos contenha uma letra explicitamente contrária ao modo de vida católico (e quantos não há, até mesmo com letras pornográficas). É preciso que, quer comamos, quer bebemos, quer estamos nos divertindo ou trabalhando, a nossa vida corresponda à Fé que professamos e à santidade que se espera de um católico.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Congregação Mariana: Mensagem aos participantes do CORESP JOVEM 2013


Mensagem aos participantes do CORESP JOVEM 2013

Salve Maria!

Gostaria de ter podido estar com vocês em mais um encontro da juventude estadual, mas não foi possível. Apesar disso, desejei contribuir de alguma forma e escrevi esta carta. Fazer parte da Congregação Mariana é colocar seu nome numa história de 450 anos. Nossos antepassados foram homens e mulheres de valor, convictos de seu papel na evangelização da sociedade. Quantos santos se formaram sob os princípios desta nossa associação! Muitos, muitos mais que aqueles que a Igreja honrou com a canonização. A frente de nós, está Nossa Senhora. Que poderemos dizer sobre ela? Nem mil encontros seriam suficientes para esgotar as palavras sobre a grandeza, a importância e sobre as graças maravilhosas que o Senhor derramou sobre ela, Maria. Meus caros jovens, tenham sempre o nome de Maria nos seus lábios. Não permitam jamais que alguém tire esta palavra de vossos lábios. Não sigam a ninguém que rejeita Nossa Senhora como ela é. Apeguem-se ela, que ela seja para vocês um sinal de salvação, que Maria seja para vocês o braço forte que os sustentará nos momentos de dúvida e sofrimento. Não permitam também que a correria do dia-a-dia ou as diversões que o mundo oferece sufoquem dentro de vocês o desejo de estarem bem unidos a ela.
Este é um ano especial. A Congregação Mariana faz 450 anos. E também é o ano do JMJ no Rio de Janeiro. Todos querem estar lá, junto ao Papa. Eu também, se Deus quiser. Mas se você não puder ir, que sua tristeza não seja longa. Há uma maneira excelente de você prestar a maior homenagem que um papa pode receber. A homenagem de sua obediência. Mais do que nossos aplausos, Sua Santidade quer que estejamos ligados a ele por meio de uma autêntica vida católica. Onde quer que você demonstre - por palavras ou obras -  a fé católica, ali você estará reverenciando o Santo Padre. Por onde quer que seus pés o levem para evangelizar, ali você estará fazendo sua Jornada Mundial. Porque antes que haja um JMJ, existe uma outra jornada, aquela que é feita dia a dia por todos os jovens católicos do mundo, caminhando pelas ruas de suas cidades a direção à escola, à universidade, ao trabalho, à casa de uma amigo, à Igreja, levando em seu coração a mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Façamos nossa própria Jornada todos os dias, levando a nossa cruz.
Saúdo especialmente a Diretoria da CORESP e as congregações marianas locais pelo apoio e empenho na realização deste importante evento, o Coresp Jovem.
Deus abençoe a todos nós com a intercessão de Nossa Senhora.

Com carinho,
José Renato Leal
Congregação Mariana da Anunciação
Santos/SP

Ainda a Liturgia: deixemos que ela faça o seu trabalho.


(Dirigido especialmente aos jovens da PJ de Santos)

Ok, é tanta coisa... o assunto renderia seminários inteiros, de vários dias... Vem à minha lembrança Dom David Picão. Certa vez, no Cefas, ele presidiu uma Missa durante um evento da PJ, eu estava participando. Alguém teve a "feliz" idéia de trocar   as leituras do dia (não me recordo se foi só 1 ou todas) por outras, também bíblicas. Foi o que bastou... parte da homília do bispo foi dedicada a tentar entender porque "raios" tinham tido aquela "feliz" idéia. Nós, jovens, silenciosos como túmulos, olhávamos uns para os outros, rezando para que o Creio chegasse depressa :) . Que Deus acolha a alma de Dom David em sua glória. Mas enfim gente... objetivamente, mas bem objetivamente mesmo: a Santa Missa não é lugar para experimentações. Infelizmente, isso virou quase um esporte nos meios eclesiais. Recentemente, meteram uma carroça de bois na procissão de entrada de uma Missa realizada numa entidade muito conhecida por todos nós. A inconveniência disso é tão evidente que fico dividido entre a preguiça e o constrangimento ao ter que apontar tais fatos. Mas há quem não veja nada demais. Eu fico tentando buscar uma teoria que possa explicar este certo entorpecimento na percepção da realidade, particularmente aquela que diz respeito ao nosso santo culto. É tão óbvio... Nascemos e crescemos dentro deste estado de coisas. Alguns lá atrás decidiram que as coisas seriam como eles quisessem, ao arrepio do que a própria Igreja havia determinado. A maioria de nós não havia nascido quando as arbitrariedades começaram. O bom nome do Concílio Vaticano II é usado como pretexto para tantas coisas... Eu não vivi aquela época, mas ouço as histórias. Eu tenho 30 anos e ainda não consegui entender essa fórmula mágica que diz conciliar uma autêntica vida católica e uma tendência quase viciosa de atenuar o espírito de sadia obediência que devemos ter com a Igreja. Diz-se que devemos nos adaptar para melhor acolher. Mas ora... façamos uma séria meditação sobre isso. Será que o Magistério da Igreja é tão pobre de assistência divina que deva merecer, em suas próprias determinações, o socorro dos leigos (e até mesmo de padres e bispos) por meio do descumprimento destas mesmas determinações? Eu tenho sérias dúvidas de que Deus se alegre com isso, pra dizer o mínimo. Até porque é uma coisa de dar nó na cabeça. Deveríamos trabalhar na unidade da Igreja. Isso vale pra tudo. Com relação à doutrina, nem se fala! Mas alguns querem fazer o casamento do casal impossível: fidelidade e desobediência. Estas pessoas estão por aí, circulando como pessoas de muita boa vontade nos meios eclesiais, com seus livros publicados, ainda aclamados como exemplos. Nossos predecessores, filhos e netos, hão de se perguntar no futuro como pudemos tolerar algumas coisas.
Nos círculos mais esclarecidos, coisa rara hoje em dia, fala-se com acerto (com um suave tom de brincadeira) que a principal regra litúrgica é a seguinte: leia-se o preto, faça-se o vermelho. Calma, eu vou explicar. O roteiro da Missa está pronto a mais de 40 anos. Entretanto, ouve-se muito nas equipes de liturgia as expressões “montar a Missa”, “preparar a Liturgia”. Não deixa de ter uma certa graça ouvir tais coisas. Não sou de todo contra essas expressões em si, pois a celebração da Santa Missa exige a distribuição de tarefas, a disposição de objetos etc. É que tais expressões dão a entender que a Missa seria como um papel em branco sobre o qual temos que criar alguma coisa. Voltando ao preto e vermelho. No Missal, as palavras do sacerdote e as respostas do povo estão em letras pretas. As rubricas, isto é, as orientações sobre o que fazer durante a Missa (para onde ir, o que pegar, a quem falar etc.) estão em vermelho. Portanto, a celebração da Missa exige, no mínimo, isto: que se diga o que se determinou dizer, que se faça o que se determinou fazer. Isso é o papel da autoridade da Igreja. Isso não é capricho da Igreja. É, meus amigos, esse é o grande problema de nossos tempos: alguns de vocês podem achar que tem nas mãos a Chave do Futuro, a Pedra Filosofal que incide um facho de luz sobre a verdade das coisas. E, tendo nas mãos esta imaginária preciosidade, dizem: “Saia da frente, Igreja! Fique onde está e abra espaço para mim!”. Que cada um faça seu próprio exame de consciência.

Continua...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Liturgia: uma conversa franca

Por José Renato Leal

Nosso Senhor é, de fato, o mestre sapientíssimo. Haviam razões para que inclinasse a cabeça suada de sangue sob a vontade do Pai, no limiar de sua Paixão. E haviam também razões para que ele dissesse que as coisas que dizia, não as dizia por si mesmo, mas falava daquilo que antes havia ouvido do Pai. E estas razões se resumem numa palavra: "obediência". Nosso Senhor deu-nos pistas do caminho que devemos trilhar. A vida cristã, a vida autenticamente católica, possui esta dinâmica: a alguns é dado entregar e a outros, receber. Alguns recebem a missão de falar, enquanto outros devem inclinar o ouvido. A fé, por exemplo, como diz as Escrituras, vem pelo ouvido. Nós não a criamos por engenho próprio, nós recebemos das mãos da Igreja. O dom de Deus é derramado sobre nós com o instrumento da voz dos padres ou mesmo de um bom leigo. Devemos considerar que na origem do que nos é dado está uma autoridade além de nossa opinião própria. Mesmo sendo Deus, Um com o Pai, deu-nos Nosso Senhor o exemplo. Para uma mente moderna, pareceria ser uma "idéia melhor" ver-se livre do cálice de amargura. Mas Nosso Senhor quis a horripilante monotonia de sua Paixão.

Porque estou dizendo tudo isso? Três tesouros estão sob a guarda dos ministros da Igreja: a doutrina, o culto e o governo. Quero dar destaque agora ao segundo: o culto. Quando Nosso Senhor fundou a Igreja, ele a erigiu sobre uma autoridade humana, Pedro, em torno do qual se congregaria uma rede hierárquica - qual vigas de aço entrelaçadas a sustentarem paredes, teto e chão deste grande edifício chamado Igreja. O conceito de autoridade sempre foi muito forte da Igreja. O fazer ou deixar de fazer isto ou aquilo sempre passou pelo crivo de uma autoridade maior, o do Papa com os bispos, estes com os presbíteros, estes com os diáconos e o povo em geral. É claro que também o simples fiel deve também obediência ao papa. Tanto é que uma ordem vinda de um bispo que seja contrária a do Papa não deve ser obedecida. A autoridade deve ser exercida como um rio que flui de alto a baixo. Se alguém ousa interromper o fluxo deste rio, com o intuito de fazer secar a foz ou mesmo na expectativa de criar uma nova nascente, este alguém é digno de repreensão e descrédito. Que nada se interponha a obra de Deus!

O culto, ou melhor, a Liturgia está sob a guarda da Igreja. Ela não é como uma coisa que se possa mover de lá para cá ao sabor dos impulsos. Devemos recebê-la em espírito de obediência. Nosso Senhor quer favorecer esta grande virtude por meio da Liturgia. Agir à revelia dela favorece apenas a nossa vaidade, que está escondida sob a capa das boas intenções. Trabalhar na Igreja e pela Igreja deve ser uma escola de humildade e sensibilidade para captar o que é ordenado e o que é desordenado. Devemos sentir com a Igreja, aprovando o que ela aprova, desaprovando o que ela desaprova, ser leal para com ela em tudo, até nas mínimas coisas. Isto não é excesso de escrúpulos, nem legalismo, mas é a consciência de que uma força move o agir da Igreja, força esta que vem do Espírito Santo. Reconheçamos o valor das coisas antigas. Não    desprezemos a sabedoria de nossos antepassados. Nosso Senhor disse que o Reino de Deus é como um baú de onde se retira coisas novas e velhas.

Cuidem para que não tenham uma ilusória percepção da realidade. A aparente alegria pode esconder o mal da impiedade. O culto da Igreja não é como uma qualquer outra manifestação de pessoas. Vejam, por exemplo, a Santa Missa. É o mais excelso ato de adoração que o ser humano pode oferecer a Deus. Nele acontece o perfeitíssimo Sacrifício de Nosso Senhor. Tal fato deve suscitar em nós um olhar totalmente diverso daquele que temos para as coisas de nosso cotidiano. A Santa Missa não é um show, nem uma palestra. Ela é um acontecimento. Algo acontece nela (o Sacrifício) e isto deve o centro de nossa atenção, de forma que nada se interponha. Para que isto aconteça, pensemos em três palavras: o culto católico deve ser santo, deve fazer crescer nas almas o anseio pelas coisas espirituais, firme e suavemente; o culto católico deve ser sóbrio, deve ordenar nossos sentimentos, fugir dos excessos, endireitando os caminhos da nossa mente ao Senhor, pois Deus está na ordem e não na desordem; o culto católico deve ser solene, deve manifestar evidentemente e o quanto possível a grandeza do que está sendo celebrado, deve indicar que aquilo que se realiza não é algo trivial.

Fazer o que a Igreja quer e sentir o que a Igreja sente. Que caminho tão evitado tem sido este por tantos católicos! Fazer o que a Igreja quer e sentir o que a Igreja sente. Quanta dificuldade é colocada sobre este ensinamento.

A história da Igreja é una. Há quem queira dividi-la. Não estamos em uma Igreja de 40 anos, mas de 2000 anos. Mas há quem queira exaltar o contemporâneo e rebaixar o antepassado. Não sejamos superficiais. "E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada até o inferno!" (Mt 11,23) Não sejamos cidadãos de Cafarnaum, mas cidadãos da "Cidade dos cristãos", humilde, cheia de gratidão, justa. Pela obediência somos os elos da unidade da Igreja, somos os fios da túnica sem costura de Cristo. Pela desobediência, somos as tiras do flagelo que rasgaram a carne de Cristo. O que nós queremos ser? Estamos dispostos a fazer renúncia de nossa auto-suficiência? Pois é, meus irmãos. Peçamos a sabedoria de Deus. Peçamos discernimento. Não um discernimento qualquer, como aquele que usamos no supermercado para escolher este ou aquele produto. Não, mas um discernimento que tenha olhos e ouvidos para o bem espiritual das pessoas aqui na terra e para a eternidade, o que não se confunde com um mero bem-estar psicológico. Peçamos a sabedoria de Deus para agir na Igreja, com a Igreja e pela Igreja, em nome de Nosso Senhor. Não estranhem este meu linguajar. A Igreja é a continuadora da Missão de Nosso Senhor. Quem sente o que ela sente, não será confundido.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Legitimidade e legalidade da união homossexual - debate em outro blog (parte 1)

Por José Renato Leal

Bom, meus amigos. Segue abaixo um debate que travei no excelente blog Deus lo Vult. O assunto é a legitimidade e legalidade da união homossexual. Decidi transformar a conversa numa postagem no meu blog pois lamentei que o que foi dito lá ficasse perdido no meio de novas postagens e conversas, queria que minha participação lá pudesse também render algum fruto aqui. 

O que escrevi lá no blog está em preto
As palavras de meu oponente estão em azul. Por questão de ética, troquei o nome dele por "Fulano".
Observações posteriores acrescentadas por mim, em vermelho.

POSTAGEM 1

Fulano, a Igreja é contra a equiparação do matrimônio a união homossexual, mesmo na esfera legal. Não pode haver dois discursos. Embora César tenha suas próprias atribuições, ele está ordenado à Lei Natural.
Devemos reconhecer que não há acordo entre nós. Você está de um lado e eu, de outro. É assim mesmo. O que é inaceitável é que se dê qualidades ao outro que não correspondem ao discurso do mesmo.
É exatamente o que você está fazendo ao citar Jean Wyllys (pressupondo que ele realmente tenha dito aquilo). [Fulano havia citado uma suposta fala do deputado Jean Wyllys, na qual chamava católicos de “genocidas”) .Não vou pedir para que você prove que os que pregam a doutrina católica sobre o assunto sejam potenciais genocidas, vou poupá-lo do trabalho de buscar aquilo que não existe.
Vejo certa polidez em você, acredito que colheria mais frutos em seus debates se abrisse mão de rotular, sem fundamento, os católicos.

RESPOSTA À POSTAGEM 1

José Renato Leal

Não me referi “aos católicos” referi-me a vocês, católicos militantes anti gays. O que vocês pretendem é genocídio, sim. Claro como a luz divina. É o sonho de vocês o fim daquilo que não pode ter fim, a exclusão do que não pode ser excluído, a redução do “diferente” ao rés do chão.
Quanto à ordem natural de Cesar, ela é seguramente muito diferente da “ordem natural” vaticana, que nada mais é que uma ordem machista de superioridade do homem sobre a mulher.
Felizmente a ordem natural de Cesar evolui para o que é justo, que é a equiparação absoluta da igualdade de gêneros. E evolui inexoravelmente porque Cesar, hoje e felizmente, não está atacado pelo atavismo disfarçado de tradição.

Fulano

POSTAGEM 2


[Postagem de Fulano] “Não me referi “aos católicos” referi-me a vocês, católicos militantes anti gays. O que vocês pretendem é genocídio, sim. Claro como a luz divina. É o sonho de vocês o fim daquilo que não pode ter fim, a exclusão do que não pode ser excluído, a redução do “diferente” ao rés do chão.”
[Minha resposta] Fulano, não delire. Quem está pondo uma espada na minha mão é você. Usando o rotulo “genocidas”, vc está tentando sufocar a conversa criminalizando a minha fala. Isso é muito feio, Fulano. Isso não se faz. Bom, vamos lá. A união heterossexual é a normativa. Não julgo as disposições subjetivas dos homossexuais. Só reconheço, como católico, que as relações homossexuais são, por si mesmas, desordenadas. Seria bom se elas não existissem. Pensando assim, não estou defendendo uma “limpeza étnica”. Isso nunca. Apenas manifesto (muito logicamente) que seria bom que algo que considero desordenado não existisse. Dizer o contrário seria uma incoerência, uma tolice. Reconheço que a Igreja, ao defender a doutrina sobre o assunto, impõe dificuldade à agenda pró-homossexual. Os católicos não aceitam a equiparação do matrimônio com a união homossexual, como já havia dito. Isso tem como consequência não aceitar que a lei dê amparo a esta equiparação. Reconheço as tensões que isto gera. Só não reconheço e não aceito que se dê à resistência católica uma amplitude (criminosa) que ela não tem. Ninguém aqui está falando em genocídio. Não insulte a minha e nem a sua inteligência.
[Postagem de Fulano] “Quanto à ordem natural de Cesar, ela é seguramente muito diferente da “ordem natural” vaticana, que nada mais é que uma ordem machista de superioridade do homem sobre a mulher. Felizmente a ordem natural de Cesar evolui para o que é justo, que é a equiparação absoluta da igualdade de gêneros. E evolui inexoravelmente porque Cesar, hoje e felizmente, não está atacado pelo atavismo disfarçado de tradição.”
[Minha postagem] Tá, vamos lá. César é o Estado, o poder humano legitimamente constituído. Acho que temos o mesmo entendimento quanto a isto. Conforme catolicamente se entende, César, embora tenha a atribuição que lhe é própria (querida por Deus) de exercer o governo sobre (vamos chamar assim) a Cidade, não está ordenado a si mesmo, mas a uma instância superior a ele, o poder espiritual, Deus mesmo. E Deus é o autor da Lei Natural, que são aqueles princípios universais anteriores às leis humanas e dos quais estas mesmas leis tomam a sua força. Pois bem, acreditamos que a família, a união do homem e da mulher (e apenas de um homem com uma mulher) não é fruto de circunstâncias culturais etc, mas é um ordenamento estabelecido por Deus para a humanidade. Nosso Senhor disse que o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher. Não se sustenta, dentro da doutrina cristã, considerar a união homossexual como coisa normal, nem sob a desculpa de que é uma conduta disseminada.
Fulano, há mais coisas que devem ser ditas sobre a segunda parte de sua fala (vc acabou abrindo um novo tópico, fora do assunto: o suposto machismo católico), mas o sono se abate sobre mim. Recomendo a leitura do breve texto do Catecismo da Igreja Católica sobre o homossexualismo, ali está o essencial do que a Igreja pensa a respeito. Poderá ler que a Igreja estabelece que o caminho pelo qual os homossexuais devem ser recebidos é o da caridade. Ninguém aqui está falando em genocídio, acho que vc deveria pesquisar o significado desta palavra no dicionário…

Até breve
José Renato

RESPOSTA À POSTAGEM 2

José Renato Leal
“A união heterossexual é a normativa”
Foi. Não é mais.
“Só reconheço, como católico, que as relações homossexuais são, por si mesmas, desordenadas.”
Porque está no catecismo…
“Seria bom que não existisse…”
Eufemismo para “acabe com isso que existe”
“Os católicos não aceitam a equiparação do matrimônio com a união homossexual”.
Matrimônio é o casamento religioso. O que se reivindica é o casamento civil. Só os católicos conservadores e os católicos submissos são contra. Menos da metade. E submissão é diferente de obediência.
A “ordem natural” vaticana é exclusivamente criacionista e assim também a teologia vaticana. Contestável, por que não? A “ordem natural” de Cesar é evolucionista.

Tolice querermos esconder o sol com peneiras. Na origem do conflito, o que se embate são duas posições fundamentais e únicas: a lei do mais forte e a lei do mais fraco.

Qual delas é a cristã?

POSTAGEM 3

Antes de tudo… que o Senhor possa receber em sua glória as almas daqueles que morreram nesta terrível tragédia em Santa Maria/RS e que seus familiares e amigos sejam confortados.
MINHA AFIRMAÇÃO: “A união heterossexual é a normativa”

RÉPLICA: Foi. Não é mais.
TRÉPLICA: Errado, meu caro. É normativa porque é o ordenamento tão antigo quanto a humanidade, é o ordenamento dado pelo Senhor. O homem deve se unir à mulher e a mulher, ao homem, ponto final. Qualquer coisa além disso é artificial, desordenado. É irrelevante se a prática é disseminada. É irrelevante as disposições subjetivas dos sujeitos envolvidos. Na doutrina cristã é cristalina: as relações homossexuais são desordenadas EM SI MESMAS, sejam feitas por um “casal” estável, sejam feitas por um garoto de programa e seu cliente. Não é você ou a maioria de votos que determina a normatividade da união heterossexual. Nem César. César pode criar um sem-número de leis aprovando ou até mesmo incentivando o homossexualismo de todas as formas possíveis, mas o valor destas mesmas leis será apenas ilusório. César é servo da Lei Natural, e não o contrário, e permanecerá para sempre na condição de servo mesmo que assuma o personagem de senhor. FIM DA TRÉPLICA

MINHA AFIRMAÇÃO: “Só reconheço, como católico, que as relações homossexuais são, por si mesmas, desordenadas. ”
RÉPLICA: Porque está no catecismo…
TRÉPLICA: Sim, está no catecismo, que contém a doutrina católica que professo, o que me faz ser um católico. (risos) Mas entendi o que quis dizer. Você me considera alguém que crê porque “está no papel”. Existem boas razões para a não aprovação da união civil homossexual. A relação homossexual não tem complementariedade, fecundidade e, consequentemente, não é gerador de laços consanguíneos, características estas que são muito caras a nossa sociedade. Equiparando-se a união matrimonial normativa (a opinião de “César” é irrelevante) com a “união civil” homossexual, o que se está fazendo é enfraquecendo os valores constituintes daquilo que é normativo. Essa conclusão é óbvia. Uma vez que se aceita legalmente uma união que prescinde de fecundidade e não gera laços consanguíneos, qual é a mensagem que “César” está passando ao mundo: a de que tais aspectos da vida humana ou tem uma importância menor que se acreditava (relativismo) ou não tem importância nenhuma. Daí será “ladeira abaixo”. Chegará rápido o dia em que outros tipos de “relações afetivo-sexuais”, das mais aberrantes, reclamarão também o direito de equiparação. É Fulano, não há acordo. Não vou descer a detalhes, mas o próprio modo como se dá a relação homossexual – sexualmente falando – evidencia a desordem intrínseca do mesmo. A estrutura biológica do homem e da mulher está desenhada justamente para o ato sexual. O endosso legal de “César” à união civil homossexual estará passando também outra mensagem: a de que não há valores perenes ligados a união sexual normativa, ou seja, instalasse o indiferentismo e o relativismo sob a sagrada união carnal. FIM DA TRÉPLICA

MINHA AFIRMAÇÃO: “Seria bom que não existisse…”
RÉPLICA: Eufemismo para “acabe com isso que existe”
TRÉPLICA: A Igreja prega a doutrina. “Quem tiver ouvidos, ouça”, como diz Nosso Senhor. A Igreja não tem a convicção de que poderá extinguir o homossexualismo do gênero humano, a única coisa que lhe foi mandado pelo Senhor é sair pelo mundo e pregar. 
Não vou insistir na questão do “genocídio”. Seria humilde de sua parte reconhecer que os católicos não estão defendendo uma guerra de extermínio. Isso simplesmente não existe. Mostre-me uma só, uma só declaração falada ou escrita de algum católico ou grupo de católicos defendendo a erradicação do homossexualismo por meio da perseguição e morte. Se existir, tomarei a liberdade de censurar este(s) católico(s) publicamente. Não seja baixo, Fulano. Estamos defendendo princípios. FIM DA TRÉPLICA 

Continuo mais tarde…

[continua]

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Choque de valores

Por José Renato Leal

Um lamentável episódio ocorreu em Curitiba/PR. Membros do Instituto Plínio Correia de Oliveira (IPCO) protestavam pacificamente contra a legalização da união homossexual (e outros assuntos atuais candentes) quando um grupo de ativistas favoráveis a ações afirmativas pró-homossexuais - e simpatizantes - avançaram contra eles, desferindo muitas ofensas e impondo-se de tal forma que inviabilizou a manifestação do IPCO. 

A ação destes ativistas é condenável, primeiramente, pela ausência de provocação prévia da outra parte (o IPCO) e pela desproporção na forma de se manifestar. Mas vamos levantar outros pontos. 

A Igreja não deveria se resignar, reconhecendo que a legalização da união homossexual busca apenas dar amparo legal a uma situação já amplamente disseminada? A resposta é não, pelas seguintes razões: 

1) A doutrina católica tradicionalmente entende que o que é bom e verdadeiro para o indivíduo o é também para a sociedade. Os critérios morais válidos para a pessoa, individualmente, são válidos também para a coletividade. 

2) A lei deve ser a expressão da razão que busca o bem, e não simplesmente a vontade da maioria. A lei não deve ser um balaio de gatos que deva comportar, sem critério, todo e qualquer anseio de uma maioria ou minoria. 

3) A verdadeira liberdade está fundada na verdade, e não na consciência individual. (“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”). Embora tenhamos livre-arbítrio para fazer isto ou aquilo, a liberdade está direcionada à busca daquilo que é bom e verdadeiro. O erro não tem direitos. 

Portanto, seria muito incoerente se a Igreja defendesse na esfera legal o que não defende na esfera privada. Aceitar a união civil homossexual significa equipará-la a união entre homem e mulher, que é e sempre será normativo. Esta equiparação atenta contra a lei natural. E a lei natural obriga a todos, cristãos e não-cristãos. 

As leis humanas contrárias a Lei divina são vazias e estamos desobrigados de obedecer a elas. A legitimidade de uma lei não está nela mesma, mas está alicerçada em princípios que se antepõem a ela. Assim, antes que o homicídio seja apenas um crime tipificado no código penal, é um ato que repugna a natureza humana por si só. 

O que fazer numa situação como a que o IPCO enfrentou em Curitiba? Acredito que a regra geral é não ceder à violência. Devemos fortalecer nosso espírito para saber enfrentar com a serenidade de Nosso Senhor. O bom católico preza pela ordem em tudo o que faz. Quando um católico se expõe a defender publicamente uma causa tão “polêmica”, deve-se considerar o risco de reações hostis. Não nego o direito de que, em algumas situações extremas, não há alternativa senão defender-se com o uso de força e/ou acionar a Justiça.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O corpo é o templo do Espírito Santo

Por José Renato Leal

A Igreja ensina expressamente: as relações sexuais devem se dar apenas dentro do matrimônio. Infelizmente, este é um dos ensinos da Igreja de Cristo mais solenemente desprezado pela grande maioria das pessoas. Muitos católicos sequer tem o cuidado de examinar a sua própria Fé antes de decidir ter relações. Vivemos num mundo onde a sensualidade está espalhada por todos os ambientes: pelo vestuário, pelas revistas, pelos programas de TV, pelos filmes. Tudo que estou dizendo parece bastante antiquado, não é? Eu compreendo. Estamos tão acostumados com este estado de coisas que questionar tudo isso parece algo estranho a nossa mente. Nós nascemos, crescemos e vivemos dentro deste estado de coisas por muito tempo. Parece estranho colocar em xeque tudo isto. Mas só parece... eu tenho uma informação importante para lhe dar: qualquer um que queira ser um autêntico católico deve aprender a desconfiar do que lhe é apresentado pelo mundo. Não devemos nos conformar tão rapidamente. Eu já disse uma vez aqui: a vida cristã não pode ser uma sucessão de acertos e conformidades com as modas da sociedade. Não! O verdadeiro católico passa tudo sob o crivo da doutrina que ele professa e recebeu no dia de seu Batismo. 

A relação sexual é ato máximo da união entre o homem e a mulher. É a chamada consumação do matrimônio, é como que um segundo endosso que um presta ao outro de seu amor indissolúvel. Não é algo que devemos instrumentalizar para aproveitar prazeres momentâneos. Se compreendêssemos que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que nós, inteiros, corpo e alma, somos chamados a coisas elevadas, que somos chamados a considerar todas as coisas deste mundo à luz das coisas espirituais. Não podemos agir como folhas soltas e levadas pelo vento. Como entender que há coisas que, embora possamos, não nos convém fazer? Que ensinamento salutar é este. Possamos silenciar nossos pensamentos para pensar sobre isso. Deixemos de lado por um instante aquelas sentenças que proferimos como juízes contra a lei de Deus, sentenças que nascem da falsa certeza de que existem assuntos de nossa vida das quais nem mesmo o próprio Deus pode se meter. Quão enganados nós somos se pensamos assim... Para Deus, não há pontos cegos. Não há altura ou profundeza de nossa alma que não esteja ao alcance do Reino de Deus. Cristo reina. Ele deve reinar sobre nós até que todos os seus inimigos estejam sob seus pés. E quais são inimigos de Cristo? São eles: a vaidade, o orgulho, a imoralidade, a auto-suficiência. O que nos aproxima das modas deste mundo é, muito provavelmente, aquilo que está nos afastando de Deus. Mas nós continuamos a preferir nos conformar a este mundo, nós ainda preferimos estar de bem com este estado de coisas onde o que importa é desfrutar dos prazeres sensíveis sem nos importar se estamos agindo com a ordem desejada por Deus. Fomos feitos para ser semelhantes a Deus, e Deus é paz, é justiça, é amor. 

Se nos entregamos sem critério ao outro pela relação sexual, sem que tenhamos por ela se unido em matrimônio, ainda na previsão de que este relacionamento não perdure por um motivo qualquer, estamos sendo injustos. A justiça é dar a cada um o que é devido. Desta forma, estamos sendo injustos com Deus, não lhe dando a obediência que Lhe é devido; injustos com o outro, pois não é devido a ele o que lhe é oferecido fora do tempo (o enlace carnal) e o que lhe seria devido (o respeito e o testemunho cristão) não é dado - portanto, uma injustiça de mão dupla; e finalmente, injustos com nós mesmos, pois ao corpo deve ser dado oportunidade para glorificar o Senhor pela castidade, e não para que sirva ao desejo egoísta do ser humano. Possamos amar a santa pureza do corpo e da alma. Quando falo em pureza, devemos abandonar aquela visão caricata que o mundo dá a ela. Aquele que abraça a pureza faz reinar sobre si a paz. É uma pessoa inteligente. Ela se aproxima do domínio de si mesmo, que consiste em permitir que a força do Espírito Santo já sobre ela. Consiste em permitir que o Reino de Cristo venha sobre ela. E isto se dá quando esta pessoa reconhece sua ignorância e dobra seus joelhos diante de Cristo que fala por meio de sua Igreja.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A abordagem católica sobre a homossexualidade

Por José Renato Leal

Merece os adjetivos de “homofóbica” e “preconceituosa” a doutrina da Igreja sobre o homossexualismo?
Resposta:
Homofobia é, literalmente, medo de homossexuais, ou, trocando em miúdos, uma espécie de aversão  que redundaria inevitavelmente para a segregação e a violência. A Igreja ensina o seguinte:
      1)      As relações homossexuais são desordenadas – moralmente inaceitáveis;
      2)      A origem do comportamento homossexual não é certa;
      3)      Os homossexuais devem ser bem acolhidos;
      4)      Eles são chamados a uma vida cristã por meio da oração, castidade e continência.
Obviamente, tal posicionamento gera tensões. Não é confortável a um homossexual ouvir o que a Igreja ensina sobre sua condição. É preciso que se entenda: é próprio da doutrina que ela entre em choque com nossas ideias e as da sociedade. Nosso Senhor, realista como era, disse que não veio trazer a paz, mas a espada... A espada aí tem um sentido figurado: assim como a espada corta e divide, o ensinamento cristão será causa de divisão, na medida em que distingue fiéis e infiéis. Cristo é, sim, o príncipe da Paz. Quando Ele disse que não veio trazer a paz, Ele se refere à paz do mundo, que despreza o Evangelho. Em outro ponto do Evangelho, Nosso Senhor não se contradiz ao dizer aos Apóstolos: “Deixo-vos a paz”. Pois logo em seguida completa: “Não a dou como o mundo a dá”. E que paz o mundo concede? A paz do mundo é uma paz que pretende conceder ao seu portador um estado de bem-estar sem exigências morais ou, quando muito, com exigências relaxadas. As pessoas têm uma concepção errada da Igreja. Acredita-se que a Igreja deva sempre se adaptar às demandas da sociedade. Nada mais falso. A Ordem dos Cartuxos tem um lema muito interessante: “O mundo dá voltas, a Cruz permanece”. Ou seja, fora dos limites da vida cristã, as coisas podem mudar ao sabor dos ventos, sem equilíbrio nem direção. Mas dentro da vida cristã, tudo está devidamente alicerçado e estes alicerces são, por natureza, intransferíveis.  Erram retumbantemente aqueles que pensam ser o seguimento de Cristo uma sucessão de acertos e conformidades com o mundo. Não e não. O seguimento da religião implica na aceitação de que, neste seguimento, haverá vários momentos em que as pessoas apontarão para uma direção, mas você terá que seguir por outro caminho, se quiser manter-se coerente em sua jornada. E estes momentos são sempre geradores de tensão, tensão inclusive com nós mesmos, pois temos que nos confrontar com nossa vaidade, orgulho, auto-suficiencia.
A Igreja Católica não pretende, contudo, instaurar o caos social, impedindo a convivência com os homossexuais, cerceando sua liberdade de ir e vir. Em todas as ações da Igreja sempre está presente a ordem e a prudência, aliada à caridade. O bom católico busca agir de forma sensata e equilibrada, sem dar margens a rompantes de euforia ou raiva. E é isto que a Igreja Católica espera de seus fiéis. As objeções que nós, católicos, levantamos quanto às reivindicações lançadas por grupos de ativismo gay (como o casamento gay e a adoção por homossexuais), são todas elas fundamentadas. O Magistério da Igreja, como eu costumo dizer, não toma decisões numa mesa de bar, entre uma rodada ou outra de cerveja. São absurdas, portanto, as acusações de que os católicos agem contra os direitos humanos e contra a ordem social, tachando-nos de homofóbicos. A falsidade desta acusação pode ser evidenciada pela própria realidade que nos cerca. Podemos dizer que a Igreja está em campanha de perseguição contra os homossexuais em algum dos países nos quais ela está presente? A resposta é não. O embate da Igreja com a agenda gay não se dá pela violência, mas pela confrontação de idéias e princípios contrários. Somos, sim, contrários à equiparação da união homossexual com a união heterossexual e somos a favor de que uma criança passível de adoção deva ter direito a um pai e uma mãe, homem e mulher. Temos tais convicções porque acreditamos que a família é a célula fundamental da sociedade e que a estrutura tradicional e natural dela - na qual a sociedade se formou: pai e mãe – deve ser mantida sem variações e protegida pela lei. Não podemos deixar de dizer também que tais convicções, além de racionalmente fundamentadas, partem da fé que temos em tudo àquilo que Deus nos revelou pelas Escrituras e pelo Magistério da Igreja. Nós, católicos, podemos ser acusados de acirrar as discussões para a aprovação de determinadas leis, dado que temos o direito moral e legal de expor o que pensamos ser o melhor para a sociedade. Entretanto, não podemos ser acusados de inviabilizar o cotidiano de nenhum homossexual, não podemos ser acusados de impor aos homossexuais um regime de coerção ou terror. Estamos firmes e tranquilos, sem medos patológicos, euforias, ansiedades ou raivas. A pecha de homofóbicos, portanto, não nos serve.
E a pecha de “preconceituosos”? Antes de ir ao ponto, uma constatação: a palavra preconceito virou um “coringa” poderoso. É usada atualmente nas mais variadas discussões, muitas vezes sem que o uso seja apropriado àquilo que está sendo discutido. O significado preciso desta palavra é próxima à recomendação evangélica do “não julgar”. É a elaboração de um CONCEITO PRÉvio a qualquer justa verificação do objeto em questão, ou quando se aponta uma causa para um efeito sem que, de fato, haja relação entre um evento e outro. Estarei, por exemplo, sendo preconceituoso se considerar que um administrador homossexual será um péssimo profissional pelo único fato dele ser homossexual. Entretanto, se eu digo que, conforme a doutrina católica, um homossexual age imoralmente ao ter relações com alguém do mesmo sexo, não é possível, a partir disto, afirmar que estou sendo preconceituoso. E porque? Porque a justificativa da minha afirmação está contido no próprio ato do sujeito. Eu não estou deduzindo a imoralidade do ato a partir de um outro fator, como se, por exemplo, eu dissesse que a relação sexual é imoral por conta do sujeito torcer para o Atlético Mineiro ou por ele ser um político corrupto. Conforme a Fé católica, as relações homossexuais são imorais por si mesmas. Não são as disposições psicológicas dos sujeitos envolvidos que tornam o ato em questão moral ou imoral, nem qualquer outro fator externo ao próprio ato. Por outro lado, ao considerar como imoral a relação homossexual, não se está julgando qualquer outro aspecto de vida do sujeito além do próprio ato sexual em si. Não há fundamento, então, em se julgar a doutrina católica como preconceituosa nesta questão.
E por que a Igreja é contrária às relações homossexuais? Por ser contra a lei de Deus, expressa sobretudo nas Escrituras. A Igreja considera tais atos contra a natureza, isto é, contrários a razão pela qual Deus constituiu o ser humano em homem e mulher. A Igreja crê que o enlace entre o homem e a mulher não é fruto do simples acaso, mas uma disposição determinada pelo próprio Criador. Tanto o homem como a mulher foram criados justamente para se complementarem, ação geradora da instituição da família. As relações homossexuais são inaceitáveis porque neles não há a complementaridade que tem como fim, inseparavelmente, a procriação e a união conjugal. O próprio modo como se dá a relação homossexual evidencia a sua desordem intrínseca, pois na relação entre o homem e a mulher, os órgãos de ambos já estão dispostos para o ato sexual, já estão estruturados para este fim específico.
A doutrina católica reconhece que, em relação ao homossexualismo, “a sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar” (CIC 2357) e que “um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação” (CIC 2358). Com isto, reconhece-se que há aqueles que manifestam tendências homossexuais espontaneamente, mesmo ainda em tenra idade. “Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.” (CIC 2358 e 2359) 
Os homossexuais podem ser católicos e bons católicos. Todavia, em virtude de sua condição, o caminho deles terá como principal característica a renúncia, trocando em miúdos, uma vida sexual conforme os ensinamentos da Igreja, nada de relações com pessoas do mesmo sexo e distância de situações que possam levá-lo a isso. É difícil? Deve ser sim, mais para uns, menos para outros. Mas Nosso Senhor disse que, quem quiser segui-lo, terá que levar sua cruz. Ele disse isso há 2000 anos e quanta ignorância ainda temos deste ensinamento do Senhor! Ainda queremos seguir a Nosso Senhor com toda a pesada bagagem de nossa auto-suficiência... Como é difícil que as pessoas compreendam que é uma luta a vida do homem sobre a terra. É difícil, é sim. 
Marcos 10, 23-27 
"E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: 'Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!' Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: 'Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus.' Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: 'Quem pode então salvar-se?' Olhando Jesus para eles, disse: 'Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.' " 
Percebem o que Nosso Senhor disse? Os discípulos, diante das exigências do Evangelho, começaram a se questionar se alguém poderia ser salvo! Vejam que bela resposta Nosso Senhor deu. Se tivéssemos mais fé, não nos queixaríamos tanto das exigências da vida cristã. Esse é o grande problema do mundo de hoje. As pessoas querem uma vida cristã seguindo seus próprios moldes. Quando vamos parar de dizer tolices e perceber que quem faz o molde da vida cristã não somos nós. Não é o molde que tem que se adaptar a nós, mas nós ao molde. E nesta adaptação, arestas precisam ser aparadas. Que ninguém diga estar em situação tal que seja impossível seguir o Evangelho. Não! Qualquer um que queira de todo coração pode seguir o Evangelho, pode ser um fiel membro da Igreja de Cristo. Mas cada um terá que lutar sua própria luta, carregar sua própria cruz.
Pra finalizar, uma palavra sobre aqueles lamentáveis e condenáveis casos de agressão a homossexuais que aparecem na imprensa – aqueles casos em que a agressão ocorreu pelo fato da vítima ser homossexual. Não é necessário muita inteligência para perceber que os criminosos que agem de tal forma o fazem movidos por defeitos de caráter, por ódios represados na mente que buscam ansiosamente por um alvo. Tais pessoas, se católicas, não fazem tais barbaridades movidos por algum sentimento de apreço pela doutrina católica, até porque se tivessem algum interesse pela doutrina, saberiam que o Catecismo da Igreja Católica diz expressamente sobre os homossexuais: “Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta.” (CIC 2358) Tais pessoas, se católicas, são motivo de vergonha e escândalo, escândalo sobre o qual Nosso Senhor dirigiu duras palavras: 
Mateus 18, 7 "Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai do homem que causa escândalo!"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A regulação da natalidade e o dever da desobediência

Por José Renato Leal

Em minha postagem anterior, afirmei que o profissional de Medicina, sendo católico (ou mesmo não-católico, mas fazendo reto uso da razão), tem não apenas o direito, mas o dever de resistir a qualquer ordem da autoridade competente (ou melhor, incompetente...) no sentido de executar um procedimento moralmente inaceitável, como o aborto voluntário e a esterilização voluntária. Pensei, entretanto, que faltava fundamentar com o pronunciamento do Magistério da Igreja. Eis que, em meu socorro, surge o grande papa Leão XIII com a encíclica Libertas Praestantissimum, da qual extraio o texto abaixo:
"A lei eterna, norma e regra da liberdade.


12. Numa sociedade de homens, portanto, a liberdade digna deste nome não consiste em fazer tudo o que nos apraz: isso seria uma confusão extrema no Estado, uma perturbação que conduziria à opressão. A liberdade consiste em que, com o auxílio das leis civis, possamos mais facilmente viver segundo as prescrições da lei eterna. E para aqueles que governam, a liberdade não é o poder de mandarem ao acaso e segundo seu bel-prazer: isso seria uma desordem não menos grave e extremamente perigosa para o Estado; mas a força das leis humanas consiste em que elas sejam olhadas como uma derivação da lei eterna e que não há nenhuma das suas prescrições que não seja contida nela como no princípio de todo direito. Santo Agostinho disse com muita sabedoria (De lib. Arb., lib. I, c. 4, n. 15): "Eu penso, e vós bem vedes também, que, nesta lei temporal, nada há de justo e de legítimo que os homens não tenham ido haurir na lei eterna". Suponhamos, pois, uma prescrição dum poder qualquer que esteja em desacordo com os princípios da reta razão e com os interesses do bem público: não teria força alguma de lei, porque não seria uma regra de justiça e afastaria os homens do bem, para o qual a sociedade foi formada.


13. Por sua natureza, pois, e sob qualquer aspecto que seja considerada, quer nos indivíduos, quer nas sociedades, e entre os superiores não menos que entre os subordinados, a liberdade humana supõe a necessidade de obedecer a uma regra suprema e eterna; e esta regra não é outra senão a autoridade de Deus impondo-nos as suas ordenações ou as suas proibições, autoridade soberanamente justa que, longe de destruir ou de diminuir, de qualquer modo, a liberdade dos homens, a protege e a leva à sua perfeição; porque a verdadeira perfeição de todo o ser é tender e atingir o seu fim: ora, o fim supremo, para o qual deve tender a liberdade humana, é Deus.

A ação da Igreja.

14. São estas máximas de doutrina, muito verdadeira e muito elevada, conhecidas mesmo pela luz da razão, que a Igreja, instruída pelos exemplos e pela doutrina do seu Divino Autor, tem propagado e afirmado por toda a parte, e segundo os quais ela jamais tem cessado de regrar a sua missão e de informar as nações cristãs. Pelo que toca aos costumes, as leis evangélicas não somente se avantajam muito a toda a sabedoria pagã, mas elas chamam o homem e o formam verdadeiramente numa santidade desconhecida dos antigos; e, aproximando-o de Deus, levam-no à posse duma liberdade mais perfeita.

É assim que sempre se tem evidenciado o maravilhoso poder da Igreja para a proteção da liberdade civil e política dos povos. Não há necessidade de enumerar os seus benefícios deste gênero. Basta lembrar a escravidão, essa velha vergonha das nações pagãs, que os seus esforços e principalmente a sua feliz intervenção fizeram desaparecer. O equilíbrio dos direitos, como a verdadeira fraternidade entre os homens, foi Jesus Cristo quem primeiro a proclamou; e à sua voz respondeu a dos seus Apóstolos, declarando que não há nem Judeu, nem Grego, nem Bárbaro, nem Cita, mas que todos são irmãos em Cristo. Sobre este ponto o ascendente da Igreja é tão grande e tão reconhecido que, aonde quer que chega a sua influência ? tem-se a experiência disso ? a grosseria dos costumes não pode subsistir por muito tempo. À brutalidade sucede em breve a doçura, às trevas da barbárie a luz da verdade. E a Igreja não tem cessado jamais de fazer sentir mesmo aos povos, educados pela civilização, seus benefícios, resistindo aos caprichos da iniqüidade, afastando a injustiça da cabeça dos inocentes ou dos fracos, e empregando-se, enfim, em estabelecer as coisas públicas uma organização que possa, pela sua equidade, tornar-se amada dos cidadãos, ou fazer-se temer dos estrangeiros pelo seu poder.

A Igreja, defensora da autoridade.

15. É, além disso, um dever real respeitar o poder e submeter-se a leis justas; donde deriva que a autoridade vigilante das leis preserva os cidadãos das empresas criminosas dos maus. O poder legítimo vem de Deus, e aquele que resiste ao poder, resiste à ordem estabelecida por Deus; assim é que a obediência adquire uma nobreza maravilhosa, pois que se não inclina senão da mais justa e mais alta das autoridades. Mas, desde que falta o direito de mandar, ou o mandato é contrário à razão, à autoridade de Deus, então é legítimo desobedecer aos homens a fim de obedecer a Deus. Deste modo, achando-se as vias da tirania fechadas, o poder não chamará tudo a si; estão salvaguardados os direitos de cada cidadão, os da sociedade doméstica, os de todos os membros da nação; e todos enfim participam da verdadeira liberdade, aquela que consiste, como demonstramos, em que cada um possa viver segundo as leis e segundo a reta razão."

domingo, 6 de janeiro de 2013

A regulação da natalidade e o ensino da Igreja

Por José Renato Leal

A encíclica Humanae Vitae, que trata da regulação da natalidade, foi promulgada em 25/07/1968 pelo Papa Paulo VI. Embora contendo ensinamentos urgentes para nosso tempo, pouco se fala sobre ela. Este silêncio pode ser explicado pelo fato da encíclica lançar definições sobre pontos nevrálgicos da modernidade, a saber: o aborto, os métodos contraceptivos artificiais e a esterilização voluntária. Vejamos o que o Papa Paulo VI dispõe sobre a matéria:

"Em conformidade com estes pontos essenciais da visão humana e cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar que é absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado, mesmo por razões terapêuticas." Humanae Vitae, parág. 14


Ou seja, a Igreja proíbe o aborto voluntário. Aquele que aborta peca contra o 5º mandamento do Decálogo, cometendo pecado mortal. As leis que dão sustentação ao aborto voluntário são imorais e essencialmente desprovidas de valor obrigatório. O católico não está, portanto, moralmente obrigado a cumprir estas leis, pois são disposições arbitrárias do Estado. Ao contrário: o católico, profissional de Medicina, está moralmente obrigado a desobedecer estas leis. Os médicos, os anestesistas, os enfermeiros e demais profissionais auxiliares de saúde estão livres, diante de Deus, para resistir à autoridade que lhes ordenar agir contra a Moral.
O papa Pio XII, na encíclica Casti Connubii, já havia ensinado que, a respeito da gestação... "quer a morte seja infligida à mãe, quer ao filho, é contra o preceito de Deus e a voz da natureza: “Não matar”. A vida de um e de outro é de fato coisa igualmente sagrada, que ninguém, nem sequer o poder público, terá jamais o direito de destruir."
"É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como da mulher." 
Humanae Vitae, parág. 15

Ou seja, a Igreja proíbe a esterilização direta, entre as quais destaco a vasectomia e a laqueadura. A legalidade destes procedimentos esterilizantes é moralmente irrelevante. O católico deve rejeitar prontamente quaisquer indicações médicas que visem a esterilização, lembrando a primeira ordem que Deus deu ao ser humano: “Sede fecundos”.
A esterilização indireta é aceitável. Ela consiste na perda da esterilidade provocada por um procedimento que visava outro fim, como, por exemplo, a extinção de um câncer por meio da extração de um tumor localizado em alguma área dos órgãos reprodutores. Neste caso, a esterilidade não é o fim querido e desejado, mas a consequência inevitável de um procedimento que tem como intuito garantir a sobrevivência do paciente. Cabe ao paciente e aos médicos analisarem rigorosamente a necessidade, a extensão e as consequências deste tipo de procedimento.
"É, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação." 
Humanae Vitae, parág. 16

Ou seja, a Igreja proíbe o uso de contraceptivos, como a camisinha.

As relações sexuais têm duas finalidades inseparáveis: procriativa (geração de filhos) e unitiva (união conjugal). Ensina Pio XII: "Ademais, a doutrina cristã ensina e é certíssimo à face da luz da razão humana que os próprios indivíduos não têm outro domínio sobre os membros do seu corpo senão o que se refere ao respectivo fim natural, não podendo destruí-los ou mutilá-los, ou por qualquer forma torná-los inaptos às funções naturais, a não ser no caso em que não possa prover-se por outra forma ao bem de todo o corpo." (Casti Connubii, parág. 71)

Qual o caminho católico para uma sadia sexualidade? Está escrito no Catecismo da Igreja Católica:
"Os esposos podem querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas. Devem, porém, verificar se tal desejo não procede do egoísmo, e se está de acordo com a justa generosidade duma paternidade responsável. (...) A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos, são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica." (parágrafos 2368 e 2370)

O casal na Fé que, por justas razões, deseja regular o nascimento dos filhos deve abster-se de ter relações sexuais por um tempo e/ou ter relações nos períodos inférteis, mas nunca usar de meios estranhos ao ato conjugal.